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Meu Nome Não É Johnny, 2007

Dividido entre comédia e drama, um filme humano sobre a classe média carioca, as drogas e uma reviravolta.

Selton Mello protagonizando o primeiro lançamento nacional do ano recém chegado e mostrando que trabalhador que rala de verdade, não descansa. Digo trabalhador porque Selton atuou, deu palpite na escolha do elenco e ajudou a escrever os diálogos, como se não pudesse evitar a intromissão.

Interpretando pela primeira vez um personagem que ‘estava a seu lado’, ele revive algumas histórias da vida de uma lenda urbana carioca: João Estrella. Jovem da classe média-bem-relacionada, João era moleque quando fumou seu primeiro baseado, meio ao acaso. No filme, o papel do carinha que descola o primeiro pra ele é interpretado por Rodrigo Amarante, também conhecido como baixista do Los Hermanos.  Daí João foi crescendo e o vício também. Um dia ele se viu vendendo, ganhando e gastando mais do que imaginava e não soube a hora de parar. E chegou num tribunal, viu a mãe ali chorando e foi parar no meio dos loucos e se tornou ainda mais humano. Saiu de lá gente grande.

De tão carismático, João ganhou até um livro sobre a própria história, escrito por Guilherme Fiúza, de onde saíram as situações que deram origem ao filme.

Júlia Lemmertz faz o papel da mãe de Estrella, que no final das contas foi a última a saber de tudo. Cléo Pires interpreta a namorada Sofia que esteve ao lado dele em boa parte da jornada. Aliás, Cléo e Selton estão bem afinados. Afinados também são os diálogos que você imagina surgindo normalmente naquelas situações, principalmente se você conheceu algum cara boa praça como o João.

Rafaela Mandelli, que foi protogonista da ‘novelinha’ Malhação por uma ou duas temporadas, se destaca no papel da amiga que também passa por várias metamorfoses dentro da história. E a história se desenrola dentro dessa perspectiva: As várias etapas, a oscilação de alguém que conhece o auge da juventude sem muita noção de limites, e acaba pagando sua pena e voltando à vida normal.

Selton Mello encarnou o seu próprio “Johnny”, o que deu mais charme à trama. Muitos dizem que a história contada dessa forma heroiciza demais o personagem. Mas afinal, ele é um personagem, não?

Mauro Lima dirigiu Tainá 2 por encomenda, e caiu no projeto de Meu Nome Não É Johnny também por convite. E apesar de não ser um projeto ‘pensado’ por ele, conduziu o filme pela linha pop que ele precisava ter.

Em tempos de Tropa de Elite ninguém escapa a uma comparação, a uma pergunta. E sabe, melhor dizer que os dois filmes não se parecem, porque não se parecem mesmo. Os dois talvez lidem com a mesma coisa por prismas diferentes e um pode até abafar o outro, porque em cinema às vezes a subjetividade perde pontos frente à ação. Melhor separar cada um e deixá-los em seus devidos lugares para não julgar errado.

Selton disse que até foi convidado a participar do Tropa. Seria ‘aquele que pede pra sair’, mas já tinha acertado com Mariza Leão sua participação no Johnny. E ele fez bem, porque era preciso alguém como ele pra trazer à tela esse homem-humano. E porque no filme talvez ele seja de longe a melhor coisa.

A história é interessante. A direção coerente. Mas falta à trama uma universalidade maior que transmita a idéia de reconhecimento com o personagem, que é ele mesmo a essência do filme. A fábula do vim-vi-e-venci soa meio piegas. Tudo bem, foi bonito isso, mas e daí?

Ressaltando, o melhor desse filme são seus personagens e suas histórias. Segue um ritmo gostoso de ver, mas quando passa a ser sério, perde a graça.

Quem gosta do Selton deve ir. E quem gosta de cinema brasileiro, também.

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